Os dons espirituais e sua importância para a igreja

Certamente uma boa maneira de começar um assunto é buscar definir com precisão o que é tal assunto. John Stott nos ajuda na definição de dons espirituais ao dizer: “Talvez possamos definir dons espirituais como ‘certas capacidades, concedidas pela graça e poder de Deus, que habilitam pessoas para serviços específicos e correspondentes’. Um dom espiritual é, portanto, (…) a capacidade que qualifica uma pessoa para um ministério”.[1] Hoekema nos fala sobre a amplitude do assunto: “A palavra mais comumente usada pelos escritores do Novo Testamento, para descrever os dons do Espírito, é charisma. Essa palavra, entretanto, tem um largo espectro de significados. ‘Cerca de vinte dons são mencionados em conexão com a palavra [charisma]. A enumeração dos dons em Romanos 12 e 1Coríntios 12 mostra que eles compreendem uma gama abrangente desde administração de dinheiro até profecia, desde cura de enfermos até celibato’. Geralmente, a palavra se refere a dons específicos que Deus concedeu ao seu povo”.[2] O dom espiritual é uma manifestação do Espírito Santo trabalhando em e por meio do cristão, porém, indo além de suas habilidades naturais.[3] Por sua vez Christian A. Schwarz nos lembra que o dom espiritual é um ato da graça de Deus: “Nos últimos anos tenho descoberto que há concordância entre os mais diversos grupos de cristãos sobre a definição dada a seguir: Um dom espiritual é uma capacidade especial que Deus dá a cada membro do Corpo de Cristo – de acordo com sua graça – e que deve ser usada para a edificação da igreja”.[4] Erickson faz algumas afirmações sobre os dons: Romanos 12.6-8 e 1Pe 4.11 catalogam algumas funções básicas exercidas na igreja; a lista de 1Coríntios trata de habilidades especiais; não se deve reduzir a expressão ‘dons do Espírito’ a um único conceito ou definição; não fica claro se esses dons são dados desde o nascimento, se são capacitações recebidas em algum momento posterior ou uma combinação de ambos; fé e serviço, são qualidades ou atividades que se esperam de todos os cristãos, e é provável que o autor tenha em mente uma capacidade incomum nessa área; e as listas não esgotam todos os dons espirituais possíveis. Essas listas seriam, então, ilustrações dos vários dons que Deus tem concedido à igreja.[5] Os textos que apresentam listas de dons são: 1Coríntios 12.8-11, 28; Rm 12.6-8; Efésios 4.11; 1Pedro 4.11, e sobre elas Robert Charles Sproul, concordando com Erickson, afirma: “Não há qualquer razão para crermos que a lista de dons espirituais seja exaustiva. Ele estava formulando o argumento de que o Espírito dá inúmeros dons ao povo de Deus”.[6] Sobre o propósito dos dons espirituais, Hoekema diz que “eles habilitam os crentes para a realização de tipos específicos de serviços na igreja, ou ao engajamento em formas particulares de ministério no Reino de Deus. Seu propósito é edificar os crentes, construir a igreja e servir à comunidade cristã. Têm também um propósito missionário: levar incrédulos ao conhecimento salvador de Cristo, fortalecer na fé os novos convertidos e equipá-los para posterior testemunho”.[7] Stott reforça: “A Escritura, por sua vez, afirma que eles são ‘dons de serviço’, cujo propósito primordial é ‘edificar’ a Igreja”.[8] Os textos de 1Co 14.12 e 1Pe 4.10 no ensinam que dom espiritual é para a edificação da igreja, dos irmãos em Cristo, e 1Pe 4.11 diz que o uso do dom é para que Deus seja glorificado em todas as coisas. Deste modo, temos a glória de Deus e a edificação da igreja como propósitos fundamentais dos dons. O dom espiritual nos encaminha em direção ao outro e não a nós mesmos. Portanto, fica claro e evidente que Deus deu dons a igreja tendo em vista a sua própria glória e o bem de seu povo. Os dons espirituais são extremamente importantes para a vida da igreja em nossos dias, é preciso conhecê-los e exercitá-los para o bem de todos e para o louvor de nosso Deus. [1] STOTT, John R. W. Batismo e Plenitude do Espírito Santo. São Paulo: Vida Nova, 1960, p. 65. [2] HOEKEMA, Anthony A. Salvos pela Graça. 3ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 44. [3] Cf. HOEKEMA, Anthony A. Salvos pela Graça. 3ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 44 [4] A. Christian Schwarz. O teste dos dons. 3 ed. Curitiba: Esperança, 2010, p. 12. [5] Cf. ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997, p. 357-358. [6] SPROUL, Robert Charles. Somos todos teológicos: uma introdução à teologia sistemática. São José dos Campos, SP: Fiel, 2017, p. 286. [7] HOEKEMA, Anthony A. Salvos pela Graça. 3ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 44. [8] STOTT, John R. W. Batismo e Plenitude do Espírito Santo. São Paulo: Vida Nova, 1960, p. 82.