


A Missionária Ieda Rafael, membro da Igreja Cristã Evangélica (ICE) de São José dos Campos — SP, tem dedicado sua vida a levar a mensagem de Cristo a diferentes partes do Brasil. Atualmente, ela atua entre o povo quilombola em Mirandiba-PE, uma cidade com aproximadamente 15 mil habitantes, com 23 Comunidades quilombolas em torno da cidade. Apesar da presença de algumas igrejas no local, a população enfrenta desafios espirituais como idolatria, feitiçaria e alcoolismo. Nesta entrevista, a Missionária Ieda compartilha conosco suas experiências e seus desafios.
Como foi o seu chamado para se dedicar ao Reino de Deus como missionária?
Desde pequena aprendi amar e a falar de Jesus às pessoas. Deus começou a falar ao meu coração na adolescência. Por três vezes fui desencorajada a ser uma missionária, mas no tempo de Deus, tudo aconteceu.
Quais são, na sua visão, as três principais características que uma pessoa precisa ter para se dedicar ao campo missionário?
- Obedecer à Palavra: Viver conforme os ensinamentos de Deus.
- Convicção: Ter certeza do chamado para o campo que Ele escolheu.
- Amar o povo: Respeitar os costumes e diferenças do povo.
Em relação ao campo missionário em que você está servindo, como foi o direcionamento do Senhor para este local específico?
Em 2022, Deus começou a incomodar meu coração para viver um ministério como missionária. Após conversar e orar com a igreja mãe, entrei para a MCE, passei por todo o processo que ela exige e fui convidada a conhecer Mirandiba-PE em maio de 2023. Deus confirmou a Sua vontade e eu fui trabalhar naquela cidade em janeiro de 2024.
Quais foram os maiores receios ou reações que você teve quando recebeu de Deus o chamado para servir ao povo Quilombola?
A princípio medo: será que dou conta de trabalhar em um campo tão grande e desafiador? Depois, veio a paz, em saber que quem faz a obra é o Senhor.
Como o trabalho missionário foi aberto?
O trabalho missionário foi iniciado pelo Pr. Paulo Mikhéias, atendendo três comunidades: Queimadas, Mandacaru e Riacho do Meio. Após, um casal de coreanos e uma moça, enviados pela Missão Juvep em parceria com a MCE, se uniram para atuar no quilombo urbano, entre os vizinhos ao redor da Igreja. Depois, com a minha chegada, nasce a ICE em Mirandiba, em janeiro 2024. Com a licença pastoral do Pr. Paulo Mikhéias e o fim da parceria com a Juvep continuei o trabalho sozinha, enfrentando grandes desafios. Deus me sustentou, com o apoio das Igrejas, da MCE e dos irmãos comprometidos com missões.
Como é o seu trabalho hoje?
Atualmente, trabalho com três Comunidades: Mandacaru, Riacho do Meio e Quixabeira. Estou iniciando contatos com as Comunidades do Feijão e de Araçá para começar um novo trabalho. Na Igreja há pessoas que moram na área urbana, três famílias indígenas da aldeia Atikum que residem ali, além de nordestinos naturais da cidade. Todos recebem estudos bíblicos. Uma vez por semana, vou às comunidades para estudarmos a Bíblia.
Conte um pouco sobre a realidade das comunidades e da cidade em que você está servindo como missionária.
As pessoas, com poucos recursos financeiros, vivem da roça e de trabalhos diários nas fazendas. A energia elétrica é precária e a água vem de poços ou açudes, às vezes faltando por dias. Cozinham com fogão a lenha e, enquanto os mais jovens têm celular com internet rural, os mais velhos não sabem usar tecnologia e nem sabem ler. São católicos devotos, acreditam em benzedeiras, porém seguem líderes espirituais afrodescendentes e pajés indígenas. As festas locais incluem apresentações culturais de quilombolas e indígenas. Além disso, têm forte envolvimento com jogos de bingo e rifas.
Quais são os maiores desafios que você encontra no dia a dia?
O forte calor, com temperaturas acima de 35 graus, e as estradas esburacadas tornam a rotina um verdadeiro “rally gospel“. Há também a limitação de comprar certos itens para a Igreja ou uso pessoal, e a dificuldade de acesso a médicos especialistas. Frequentemente, preciso recorrer a compras ou consultas online, ou viajar 60 km para a Serra Talhada ou para o Salgueiro. Outros desafios são os desgastes: o físico, com muitos lugares para ir durante a semana; o emocional, por trabalhar sozinha; o intelectual, com a preparação de aulas, sermões; e o espiritual, enfrentando desafios e ataques que tentam nos desanimar.
Conte-nos as bençãos recebidas de Deus no período de trabalho nesse lugar.
Sou grata a Deus pelo que Ele tem feito em minha vida e neste lugar.
Recebi apoio incondicional da MCE, mesmo após a saída de toda a equipe. Agradeço aos meus apoiadores: a) a igreja ICE S.J. Campos, especialmente o seu Diretor de Missões; b) aos intercessores, que oraram, jejuaram e mantiveram firme a sua intercessão; c) aos mantenedores, que não apenas me ajudaram pessoalmente, mas também contribuíram para a manutenção da Igreja.
Também recebemos o apoio do Pr. Ivanei, da Educadora Cristã Lilian em novembro e do Pr. Pedro e Mariana, além dos Seminaristas Pedro e Ingridy, em janeiro.
Deus tem nos abençoado com o crescimento da Igreja: as pessoas estão firmes nas atividades e estudos, tivemos duas famílias legalizando seus casamentos e sete pessoas sendo batizadas.
Como podemos orar por você e oferecer suporte ao seu ministério de forma mais efetiva?
Orem pela salvação dos homens da cidade, pelo crescimento espiritual dos discípulos, pela minha saúde física, emocional, mental e espiritual. Peçam também pela formação da nova equipe, pelo avanço das comunidades Feijão e Araçá, e por um novo espaço físico para a Igreja, pois o atual está ficando pequeno
Que conselhos você daria para os nossos leitores que sentem o chamado para servir como missionários (as)?
Obedeçam! As outras coisas, Deus proverá. Não ouçam as vozes contrárias, mesmo dentro da igreja. Sigam a voz de Deus. Se preparem, mas não percam o foco. Se demorar, persistam. Se tiverem família, obedeçam do mesmo jeito. Ele cuida dos solteiros e dos casados.