O aconselhamento Bíblico na Igreja

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Wellington Estrela

O aconselhamento bíblico pode ser definido como uma prática dinâmica de comunhão e ensino, fundamentado na Palavra de Deus corretamente interpretada e aplicada a situações específicas. Nesse aconselhamento, aqueles que pertencem ao corpo de Cristo, capacitados pelo Espírito Santo, ministram à vida de irmãos, visando cooperar com o plano de Deus, onde cada um é transformado progressivamente à imagem de Cristo.

A palavra usada para definir o aconselhamento é derivada do termo “Nŏuthětēō” que literalmente significa “colocar na mente” (At 20.31; Cl 3.16; 1Ts 5.12-14 ; Rm 15.14). Ela pode ser traduzida como admoestar, advertir, exortar, aconselhar.  Essa é a origem do termo aconselhamento “noutético”.[1] O termo “bíblico” indica que a Palavra de Deus é o alicerce do aconselhamento bíblico, portanto seus pressupostos são as doutrinas e princípios genuinamente bíblicos, frutos de exegese e hermenêutica corretas.

O conselheiro bíblico entende que qualquer conteúdo alternativo, que busque transformar o coração do homem fora de Cristo, é apenas o resultado de pura invenção resultante da sabedoria humana. Deus é o autor da Bíblia, por isso cremos ter nela um guia confiável que jamais poderá nos enganar.

E é assim que conselheiros bíblicos tratam a Palavra de Deus: inerrante, suficiente e infalível. Deus não irá se responsabilizar pelos conselhos que dermos aos que chegam até nós se estes não estiverem fundamentados no que Ele mesmo diz em sua Palavra (Hb 4.12).

O salmista apresenta sua confiança no poder transformador da Palavra de Deus da seguinte forma: “A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos simples” (Sl 19.7). Paulo escrevendo a Timóteo afirma que: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2Tm 3.16); e Pedro nos ensina que: “Pelo poder de Deus nos foram concedidas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade” (2Pe 1.3).

Resumindo, dizer que a Escritura é suficiente significa que a Bíblia contém tudo o que nós precisamos conhecer da vontade de Deus e o que é necessário para vivermos uma vida agradável a ele.  Lambert nos lembra que “essa é a doutrina na qual o movimento do aconselhamento bíblico terá sucesso ou fracassará[2] e ainda, “se tornou tarefa do movimento de aconselhamento bíblico defender a suficiência das Escrituras dos ataques feitos por aqueles que creem que a Bíblia não é um recurso suficiente para ajudar quando desafios da vida confrontam uma pessoa[3].  

Deus nos chamou para cuidarmos uns dos outros na igreja. O verdadeiro aconselhamento bíblico é uma demonstração de amor e cuidado. Um conselho bíblico pode ser o diferencial e o divisor de águas entre o desespero e a esperança, pode se tornar o mapa do caminho da libertação do medo, da aflição, da dor de viver escravo de emoções e sentimentos e de como lidar com o sofrimento. Conselhos podem transformar a nossa vida. Por essa razão precisamos saber de quem estamos recebendo conselho.

No artigo intitulado “why read the puritans today?”, o Rev. Don Kistler, cita uma forte afirmação de Isaac Ambrose, sobre o perigo de aconselhar-se com homens que não estão mergulhados na Escritura:

A alma ferida, que está buscando por conforto, nunca deve procurar o conselho de homens não regenerados; esta não é a maneira designada por Deus. […] O que podem companheiros inúteis fazer para aquietar sua consciência, perdoar seu pecado, sustentar seu espírito, ou enchê-lo com alegria espiritual? […] Dispense todos eles; afaste-se das tendas destes homens ímpios, e não toque em nada deles, para não ser consumido em todos os seus pecados[4].

O grande perigo nos aconselhamentos humanistas é que eles não aconselham levando em consideração a natureza pecaminosa do homem. O “estudo da alma”, no âmbito moderno e secular, sequer leva em consideração que Deus criou o homem conforme a Sua imagem e semelhança. Eles deixam Deus fora da “equação da vida”. E isso tem gerado grandes problemas.

A sociedade moderna tem reclassificado o pecador como vítima, não sendo ele, portanto, pessoalmente responsável por suas ações. Mas isto não é novidade, pois essa ação de transferência de culpa e responsabilidade começou no Jardim do Éden: Adão culpou Eva; e Eva culpou a serpente. Além disso, a teologia humanista tirou Deus do centro do Evangelho e pôs o homem; como consequência, temos uma prática de aconselhamento pautada em sabedoria humana e não na sabedoria de Deus.

Séculos atrás, os pastores eram vistos como os médicos da alma. Curiosamente, hoje em dia, temos terceirizado o cuidado da alma para pessoas que (em sua maioria) sequer acreditam em Deus, e, portanto, não podem solucionar problemas consequentes do pecado. Isso tem sido uma prática cada vez mais comum em muitos círculos chamados evangélicos.

Isso só poderá ser corrigido mediante um retorno urgente à suficiência das Escrituras e à prática do aconselhamento bíblico. Precisamos retomar a centralidade de “todo o conselho de Deus”. Deus está nos chamando de volta a Sua Palavra, Ele nos desafia a começar hoje, a redefinir prioridades dentro da nossa agenda, a reestruturar nossos sermões e nosso aconselhamento na direção da glória de Cristo.

Finalmente, convido você a conhecer e usar a ferramenta do aconselhamento bíblico para ajudar pessoas a viver para Cristo. Esse convite significa um movimento de retorno às Escrituras, significa ser desafiado a encontrar respostas lá. Significa encher a vida da outra pessoa com a Palavra de Deus.

Aconselhar é amar, é abraçar, é chorar junto, é sorrir junto, é obedecer, é ver acima de tudo a Palavra de Deus transformando vidas e corações. Que Deus nos ajude nessa tarefa e nos use para a Sua glória.

Pr. Wellington Estrela – ICE Vingt Rosado – Mossoró-RN.


[1] MACARTHUR, John, MACK, Wayne. Introdução ao Aconselhamento Bíblico. São Paulo: Hagnos, 2004. p. 73.

[2] LAMBERT, Heath. Teologia do aconselhamento bíblico. Eusébio-CE): Editora peregrino, 2017. p. 43.

[3] Ibid, pag. 47.

[4] KISLER, Don. Por que ler os puritanos hoje? Ed. Soli Deo Gloria Publications, Morgan, PA, 1999. Tradução: Nelson Àvila. pág. 6.