A COMUNIDADE SURDA E SEU ALCANCE ATRAVÉS DO EVANGELHO

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Glória Black

Em uma pesquisa realizada por Ronaldo Lidório em 2014[1], foram categorizados oito segmentos menos evangelizados no Brasil, dentre eles, os Surdos. Há vários registros referentes ao contexto histórico e missional que esclarecem os porquês dos resultados insatisfatórios desse alcance. Antigamente, ações excludentes para com o surdo e sua língua foram disseminadas e aculturadas, com uma representação social estereotipada de sujeito incapaz, rotulando-o como deficiente. Isso por acreditar-se que por não desenvolver a fala também não desenvolveria o pensamento, o desenvolvimento intelectual e moral. Alguns experimentos científicos e desumanos foram realizados com os surdos para encontrar a cura da surdez até concluir-se que a perda auditiva não era uma doença em si, mas consequência de uma patologia.

O surdo tem identidade própria como integrante de uma comunidade composta por valores, histórias, crenças e normas que são compartilhadas através da Língua de Sinais. No Brasil, a Língua (Brasileira) de Sinais Brasileira, cujo acrônimo é Libras, é reconhecida pela Linguística como língua estruturada gramaticalmente, dinâmica e apta para comunicar qualquer abstração solicitada. Ela é essencial para a comunicação dos surdos brasileiros. Os padrões antropológicos existentes na comunidade a estabelece com cultura própria, conforme os requisitos que o conceito impõe. O termo “cultura”, resumidamente, é o estudo do comportamento do indivíduo satisfazendo suas necessidades básicas de forma que supra todas as áreas de cunho físico, espiritual ou emocional, inserindo-se a influência da língua para sua formação integral. Na cultura surda, encontram-se diversidade de talentos, dons, potencialidades e habilidades profissionais, como pastores, missionários, entre outras, que comprovam participação social ativa.

Em Levítico 19:14a pode-se observar a ordenação: “Não amaldiçoarás o surdo”. Em primeiro plano, é um imperativo. É obedecer, abençoando o surdo, evangelizando-o através da língua que lhe fala ao coração. Na Missiologia, a comunidade surda brasileira é portadora de barreiras linguística e regional, tornando-se alvo transcultural a ser alcançado dentro do próprio país. O desmistificar a patologia e aumentar a conscientização sobre a cultura surda certamente mudará o cenário evangelístico de mais de nove milhões de surdos no Brasil. Menos de 1% desses declara crer no Senhor Jesus.

São pouquíssimas ações missionárias direcionadas ao ministério com surdos, e com pouco apoio. Dentre as ações já existentes, vale destacar o trabalho do Instituto Expressão Surda – IES[2],  que realiza sua parte traduzindo, em vídeos, histórias bíblicas para Libras, uma ferramenta abençoadora para que surdos conheçam a Deus e sejam alicerçados na Rocha.

Cumprir as ordens da grande comissão (Jo 20:21-22; Lc 24:47-49; Mc 16:15; Mt 28:19-20; e At 1:4-8) para transformação das pessoas surdas em discípulos de Cristo é tarefa urgente. Deve-se cuidar, ensinar e mostrar aos surdos o caminho para desenvolver uma vida espiritual firme e fundamentada nas Escrituras.

Precisamos rogar ao Senhor (Mt 9:37-38) por mais obreiros, surdos e ouvintes, que atendam o chamado do Senhor. Isso é imprescindível. Contudo, temos que ir além. Alcançar a comunidade Surda brasileira exige a elaboração de um projeto relevante e contextualizado que abrange áreas de evangelismo, discipulado e ação social. Para sua implantação, ações intencionais preliminares são necessárias como: conscientização de pessoas ouvintes ao ministério; divulgação e preparo da igreja local nos diferentes ministérios existentes como também no recebimento do novo ministério; investimento e apoio na capacitação de pessoas ouvintes como intérpretes de Libras; disponibilidade de espaço físico adequados às interpretações. A tarefa é abrangente. Mas não precisamos andar sozinhos. Estabelecer parcerias com outras pessoas, igrejas e/ou organizações é uma boa estratégia para o bom desempenho da missão dada, além da bênção dispensada pelo próprio Senhor da obra.

[1] LIDÓRIO, Ronaldo A. Povos menos alcançados. News da Associação Missionária para Difusão do Evangelho (Amide): 2014. Disponível em: https://www.ultimato.com.br/conteudo/quem-sao-os-menos-evangelizados-no-brasil

[2] https://www.iesurda.com/

Miss. Glória Black

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